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Surgido na Califórnia devido a uma brincadeira entre amigos ao longo da primeira metade do século XX, o skate começou como uma tentativa criativa de driblar a falta de ondas na Califórnia. Para não ficarem sem surfar quando o mar não estava em boas condições, alguns atletas amadores resolveram utilizar rodas e eixos em suas pranchas de madeira, passando a praticar o surfe também no asfalto. 

 

A moda começou a pegar e por volta de 1960, milhões de exemplares de skates já estavam sendo vendidos – inicialmente produzidos com rodas de ferro. Por causa do material utilizado, os skates escorregavam demais e passaram a causar diversos acidentes, fazendo com que a sociedade norte-americana criasse uma campanha com a finalidade de banir o novo esporte. Anos se passaram até que o esporte ganhasse novamente credibilidade e, como era de se esperar, a prática era vista exclusivamente como masculina por seu grau de periculosidade e por não combinar com “meninas descentes”.

 

Apesar da má fama que o skate feminino carregava, Patty McGee remou contra a sociedade e, em 1965, aos 19 anos, tornou-se a primeira mulher a ser considerada skatista profissional após vencer o Campeonato Nacional de Skate nos Estados Unidos – sendo convidada para ser, no mesmo ano, capa da revista Life.  Após anos viajando o mundo para competir e espalhando cada vez mais a categoria, em 4 de dezembro de 2010, Patty tornou-se também a primeira mulher a entrar para o “Skateboard Hall of Fame” da International Association of Skateboard Companie (IASC).

 

Tendo como inspiração Patty McGee e tantas outras atletas que encararam com firmeza o preconceito e não desistiram de praticar este esporte tido tanto tempo como “tabu”, milhares de mulheres do mundo todo praticam hoje o skateboarder e ganham cada vez mais seu espaço tão merecido – e agora quase totalmente aceito – na sociedade.

O 7x1 do machismo sobre o futebol feminino

 

            Dia 9 de junho de 2015, Montreal, Canadá. Provavelmente poucas pessoas devem se lembrar o que aconteceu nessa data. O dia 8 de julho de 2014, no entanto, deve despertar mais facilmente a memória dos brasileiros. As duas datas têm algo em comum: o futebol. A primeira marcou a brilhante estreia da seleção feminina de futebol na Copa do Mundo, enquanto a segunda ficou conhecida como “o dia do 7x1”, quando a seleção masculina de futebol foi derrotada pela Alemanha em pleno Mineirão lotado.

 

            O placar elástico que o time de Klose e companhia aplicou na pentacampeã verde e amarela literalmente parou o país. Durante semanas só se falava no 7x1, que virou até meme e sinônimo de derrota em brincadeiras na internet. A boa campanha das brasileiras no Mundial deste ano, com a melhor defesa do campeonato, no entanto, teve pouca atenção da mídia e do público.

 

            A diferença entre a repercussão dos dois acontecimentos pode ter interpretações diversas, mas para Carol Oliveira, militante feminista e estudante, que realizou uma cobertura da Copa de Futebol Feminino deste ano, o motivo é simples: a falta de visibilidade para o futebol feminino na mídia. “Acredito que tem uma visibilidade muito menos do que deveria ter.

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           

 

 

 

 

 

            Acredito que se as pessoas soubessem mais, vissem os vídeos, os jogos de futebol feminino, iriam ver como elas jogam muito e como elas merecem mais visibilidade”, declarou.

 

            O que motivou a gaúcha a acompanhar e informar as pessoas sobre o andamento do torneio mesmo sem ser jornalista de formação foi justamente essa falta de atenção recebida pelos esportes quando praticados por mulheres, sobretudo as modalidades tradicionalmente vistas como masculinas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Além das quatro linhas…

 

            Comparar os dois eventos e a atenção dada a cada um deles é só um dos meios de iniciar o debate sobre participação das mulheres no futebol (ou a falta dela). Ao que parece, os problemas enfrentados por elas vai muito além das quatro linhas. Na arquibancada, enquanto torcedora, elas também minoria, embora o que se é um crescimento da presença de mulheres nos estádios do Brasil.

 

            Para Ludmilla, frequentadora assídua de estádios, o futebol é sim um esporte machista. Logicamente um esporte onde ofensas como "veado", "bicha" e "puta" são feitas o tempo todo, é um esporte machista. Ainda estamos no século passado, não mudou nada ali. O pior de tudo é ver adultos ensinando isso pras crianças. Ai eu me pergunto ‘será que isso nunca terá fim?’. Para uma mulher, isso é bem desmotivador”, declarou.

Segundo ela, no entanto, esse é um problema estrutural: “Mas o problema não é o estádio em si, é a sociedade. Porque o machismo que eu sofro no estádio, é igualzinho o que eu sofro na sociedade, é reflexo dela”.

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           

 

            Dunyah Luana ama a profissão de cabelereira que exerce com dedicação, mas o que a deixa verdadeiramente completa é poder seguir seu time de coração pelos quatro cantos do país. Membro de uma torcida organizada, a paulistana de 29 anos conta que quando se é mulher, os problemas já enfrentados por torcedores se multiplica: “Quando nós vamos viajar para ver o time, muita gente acha que estamos indo atrás de namorado ou marido, as pessoas têm dificuldade em aceitar que amamos futebol e queremos acompanhar nosso time”, declara. A desvantagem em relação aos torcedores homens também é um problema, segundo ela: “Os caras são a grande maioria e, por isso, acabam tendo mais força do que a gente em várias coisas. A opinião deles sempre vai valer mais”.

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            Embora sejam muitos, os obstáculos apontados pelas torcedoras não impede que elas continuem acompanhando seus times. “Eu não vou deixar de ir ao estádio mesmo sendo difícil para nós mulheres. Aí que eu vou mesmo, e falo para as minhas amigas que temos que nos multiplicar, chamar outras amigas que gostam para irem também. Uma hora isso tem que acabar”, declarou Millena Moraes, auxiliar administrativa e torcedora. A paulistana ainda brinca: “Eles vão ter que nos engolir!”.

 

 

 

 

 

 

 

 

Elas não serão mais invisíveis

 

Em 2015, ano da Copa do Mundo Feminina FIFA no Canadá, o Museu do Futebol - instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, localizado no Estádio do Pacaembu – decidiu dar mais voz para o futebol feminino, através do projeto “Visibilidade para o Futebol Feminino”, criado para consagrar a história da participação das mulheres no esporte. A falta de identidade feminina no acervo era grande, não havia um espaço reservado para contar essa história, algo que era considerado normal.

 

 

Após longa reflexão por parte da curadoria e de representantes do Museu, criou-se a ideia de buscar um conhecimento maior sobre a história do futebol feminino, que se converge com a história do próprio futebol. Através das primeiras pesquisas feitas, descobriu-se um pouco mais da história sobre todas as guerreiras em campo – e fora dele. Percebeu-se que essa invisibilidade do tema não era mais tão “normal”, e então foi idealizada a exposição “Visibilidade para o Futebol Feminino”. Esse desejo não veio apenas da organização do Museu, mas também de uma parte do público que criticava e pedia uma representação do universo futebolístico feminino. Poucas pessoas conhecem a linha do tempo desse gênero nesse esporte, mas mulher jogar bola já foi ilegal no Brasil.

 

 

Tornar conhecida a história da participação das mulheres no esporte mais popular do país é fundamental para o reconhecimento das atletas que há muitos anos enfrentaram e ainda enfrentam obstáculos para poder jogar bola, e esse desejo virou realidade. Para isso, foi necessário o apoio das próprias atletas e uma busca incessante por documentos que são considerados raros e indisponíveis, pois nunca houve interesse em dar seu devido valor. Buscou-se também o apoio de clubes e centros de memória no Brasil e no exterior. Centenas de fotografias, recortes de jornais e documentos pertencentes aos arquivos pessoais das jogadoras estão sendo digitalizados pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro para integrar os acervos do Museu do Futebol. A primeira intervenção é no Foyer do Estádio, onde serão homenageadas vinte e quatro jogadoras da Seleção Brasileira desde 1988 – em sua primeira formação - até 2015. Na sala das Origens, está a trajetória dos primeiros times femininos no Brasil até a proibição, pelo Estado Novo, a partir de 1941. Reproduções de documentos de outros países como Reino Unido, França e Estados Unidos indicam que as mulheres jogam futebol desde o início do esporte. Na exposição, é possível observar vídeos mostrando a história dos Clubes e Campeonatos nacionais, lances bonitos de muitas atletas profissionais e amadoras e ainda imagens das pioneiras no esporte, com destaque a Léa Campos, a primeira árbitra FIFA no mundo.

 

 

Para completar o projeto, criou-se um site exclusivo com a agenda de atividades, vídeos, textos e acervos que serão pesquisados até o final do ano: www.futebolfeminino.museudofutebol.org.br.

 

 

 

Essas e muitas outras frases que inferiorizam mulheres e as colocam como sinônimo de fraqueza e vulnerabilidade não são novidades para quem, apenas por ter nascido mulher, carrega um estigma de inferioridade.

 

No esporte não é diferente. Diversas modalidades tidas como “masculinas” são marcadas pelo machismo que predomina na sociedade, e acabam tornando invisíveis participações exemplares de mulheres.

 

Existem muitas Martas por aí que jamais chegaram ao auge de sua carreira, ou talvez nem tenham uma, pelo simples fato de ser mulher. Tantas Hortências, Rondas, Cristianes, Paulas e Maurrens espalhadas pelo Brasil, que sonham todos os dias em balançar redes, marcar pontos, saltas, correr, bater como mulheres sem que isso seja uma expressão pejorativa.

 

Num momento em que a luta pelo direito das mulheres ganha destaque em debates na internet e mesmo na mídia tradicional, em meio a grandes eventos esportivos, o que reina ainda é a invisibilidade dos esportes femininos e as barreiras impostas às atletas.

 

 

A matéria a seguir foi construída com o intuito de mostrar um pouco da realidade dessas mulheres invisibilizadas no esporte.

A EVOLUÇÃO DAS MULHERES NO MUNDO DOS ESPORTES

Apesar da prática de atividades físicas ser algo extremamente antigo e ter sido contemplada por ambos os sexos desde o começo – tomando-se como exemplo a própria origem do esporte nos tempos primitivos, onde, visto como parte dos rituais religiosos e de caça, já envolvia a participação da mulher em partes dos processos –, foi a partir da Grécia Antiga que o problema da discriminização machista se iniciou. Com o começo dos primeiros jogos olímpicos, conhecidos como Panatéias, a participação feminina neste universo foi completamente banida, inclusive como espectadora. Alguns dos inúmeros discursos utilizados como explicação alegavam que, além das mulheres não terem condições físicas e fisiológicas para tais atividades físicas, a prática as tornaria masculinizadas e, desta forma, muito menos atraentes para os homens. Desta forma, até o fim do século XIX, tornaram-se praticamente impossíveis aparições femininas em ambientes esportivos e – que dirá então – em competições.

 

Apesar das diversas batalhas travadas para conseguirmos nos fazer presentes neste universo, foi apenas a partir do século XX que a participação das mulheres no Brasil realmente se ampliou e consolidou. Em uma época onde a imagem feminina era vendida como romântica, cuja educação era voltada prioritariamente para o casamento e a maternidade, essa “nova mulher” esportista era não somente vista como uma figura de inovação, como também de desestabilização da brasileira voltada para a família, o recato e a honra.

 

Mesmo tendo-se passado mais de um século desde então, o pensamento social – que leva inclusive o nome de “moderno” – parece, em algumas situações, ser ainda extremamente ultrapassado. Exemplo disso é a comum masculinização de diversas categorias esportivas, muitas vezes vistas como “esportes de homem” e limitando suas participantes a simples musas da categoria – sendo julgadas a partir de então exclusivamente por suas características físicas e não por suas conquistas na área.  Apesar disso, muitas guerreiras ainda lutam (até mesmo literalmente) para provarem que o sexo não define – e muito menos limita – ninguém, mostrando que o pódio é sim lugar de mulher.

Tendo sua origem bruta vinda da Grécia, o Mixed Martial Arts (MMA – Artes Marciais Mistas, em inglês) surgiu aproximadamente no ano de 648 a.C., quando o pancrácio – luta popular da época – foi incorporado oficialmente às olimpíadas antigas. O estilo envolvia desde socos e chutes até estrangulamentos no solo, durando até que um dos oponentes ficasse inconsciente. Apesar disso, o vale-tudo moderno, nos moldes como o conhecemos, surgiu apenas na década de 1920 no Rio de Janeiro.

 

Tudo começou quando o mestre de jiu-jítsu, Carlos Gracie, tentava estabelecer no Brasil tal estilo de luta como uma arte marcial eficiente. Para isso, Gracie promovia confrontos entre lutadores de outras artes marciais contra seus alunos especialistas em jiu-jítsu. Diferentemente do que é regulamentado atualmente, na época não havia quaisquer regras que delimitassem os confrontos, colocando assim em risco a vida de diversos lutadores. Apesar dos perigos que apresentava, os esforços do mestre Carlos obtiveram o efeito esperado: espalhando e oficializando o esporte ao longo de todo o mundo. Em 1993, Rorion Grace (sobrinho de Carlos), por influências advindas do tio, organizou nos Estados Unidos o primeiro campeonato que fez do MMA um fenômeno mundial: o tão conhecido UFC – Ultimate Fight Championship –, que hoje movimenta cerca de 1,5 bilhão de dólares por ano.

 

Criado e espalhado majoritariamente por homens, o conceito de Artes Marciais Mistas foi enxergado durante muito tempo como um esporte violento demais e, em algumas ocasiões, a participação feminina foi inclusive proibida. Apesar de desde então as mulheres terem tomado, aos poucos, seu espaço nos treinos e competições de pequeno porte, foi apenas no ano de 2013 que a primeira luta feminina no campeonato UFC aconteceu – sendo  reconhecida como um enorme marco na história do feminismo.

 

Apesar de Dana White, atual presidente do UFC, ter afirmado pouco tempo antes da histórica luta entre Ronda Rousey e Liz Camarouche que a organização jamais abriria espaço para disputas femininas, a categoria de UFC rendeu-se após a marcante competição e criou inclusive uma nova categoria para o torneio: peso palha.  A partir de então as lutas femininas têm tornado‐se cada vez mais famosas e reconhecidas, afirmando, batalha após batalha, que de “sexo frágil” não temos absolutamente nada.

Artes Marciais Mistas (MMA)

Skate

Levantamento de peso

Apesar de sua origem ainda não ser completamente exata, uma das principais versões afirma que o esporte começou na China, em 1122 a.C, no final da Disnatia Chow. Segundo relatos históricos, a principal condição para admissão de um soldado no exército da época era a aprovação no teste do Levantamento de Peso.

 

Desta forma, o esporte era considerado, desde seu início, a forma que os homens encontraram de tirar a prova de qual deles era o mais forte: comparando de maneira direta e proporcional quem conseguia levantar mais quilos na barra de ferro. Desde então, a prática não mudou muito sua forma e tampouco seu objetivo principal – aguentar suspender o maior peso possível comparado ao seu adversário.

 

Embora tenha sido considerado desde sempre um esporte majoritariamente masculino, atualmente o levantamento de peso já se tornou uma das atividades físicas mais inclusivas existentes – permitindo não só a participação de homens e mulheres, como a de paraplégicos também. E as mulheres brasileiras, principalmente, têm mostrado a quem quiser ver que não vieram ao mundo para brincadeira: nos Jogos PanAmericanos deste ano de 2015, muitas de nossas atletas ganharam medalhas na categoria. Uma das mais marcantes foi conquistada por Bruna Piloto, halterofilista de 24 anos. Além de ter ficado na terceira posição no levantamento de peso para mulheres de até 63kg após somar 202kg, Bruna entrou para a história como a primeira mulher da história do Brasil a subir em um pódio pan-americano nesta modalidade. Onde está mesmo o sexo fraco?

As skatistas brasileiras Letícia Bufoni e Karen Jonz

A brasileira Bruna Piloto conquistou a medalha de bronze na categoria até 63 quilos do levantamento de peso dos Jogos Pan-Americanos

As lutadoras Ronda Rousey e Liz Carmouche

Unknown Track - Unknown Artist
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Aira Bonfim Núcleo de Documentação, Pesquisas e Exposições

“Você joga como uma menina”

“Corre como uma mocinha”

“Bate igual a uma mulher”

 

 

 

SexoFrágil?

Ludmila Castro no jogo em que seu time do coração foi rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, em 2007

 

“A visibilidade para o futebol feminino é nula. Gostaria de saber onde estava o patriotismo das pessoas na Copa do Mundo feminina. Ninguém parou, só uma emissora transmitiu, as outras nem uma "notinha" emitiam em telejornal. Temos um tesouro chamado Marta e mais uma série de outras jogadoras que não são reconhecidas”

 

   

 

 

Ludmilla Castro, 25, astróloga e torcedora apaixonada por futebol.

Andréa Curi

Ex-técnica da dupla olímpica Lara e Nayara e das gêmeas Carolina e Isabela

Atualmente é treinadora no Clube Paineiras do Morumby

"Esporte de mulherzinha" com muito orgulho!

Entrevista com Andréa Curi - Unknown Artist
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Reportagem realizada pelas estudantes do terceiro ano de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero: 

 

Juliana Machado

Letícia Orciuolo

Mariana Ramos

Thais Nascimento

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